Minha mãe era uma pessoa rara (claro que gostamos de pensar que nossos pais e as pessoas queridas são pessoas raras, únicas, exclusivas e, claro, que num quadro grande, individuo, por individuo, todos somos raros e todos somos absolutamente comuns). Quando ela torcia, ela se entregava a torcida, brigava com a TV, gritava como poucos e, mais importante, gostava muito do esporte e de todo o espírito por trás dele. Nos seus tempos de USP jogou muito handball, antes disso nadou e fez quase qualquer esporte que fosse permitido para as meninas. Quando nasci, perpetrou uma longa briga com meu avô (do qual tenho meu nome) para que eu fosse São Paulino como ela e não Corinthiano como ele. Venceu essa com ampla vantagem (quando comecei a entender melhor o futebol, o time do São Paulo voava em campo).
Acredito que o primeiro rompimento que temos com nossos pais é quando percebemos que eles são pessoas que erram tanto (se não mais) do que a gente. Quando, às vezes, temos o pé mais no chão e a cabeça mais pronta para segurar as pontas em algum momento difícil. Este, que se passou em Agosto deste ano é definitivo. É um ponto final em uma frase que só havia vírgulas. Mas ele não acaba ali. Aquela não é a última página. E enquanto a cabeça funcionar, vamos sempre voltar para os momentos divididos.
Hoje é um dia para comemorar a sua vida. Quem ela foi, o que ela ensinou, as vidas que ela tocou, as risadas, as conversas de madrugada, os filmes que vimos, os livros que indicou, os sonhos, as dores, as dúvidas e ao esclarecimento que ela chegou. E ao amor. E a cada pedacinho dela que continua a viver em cada um de nós que a conhecemos.
Feliz aniversário, mucha.